Orquestra de Câmara de Teresina - Histórico


Por Josiel Alan em 26/07/13

A Lei Municipal A. Tito Filho nº 2.194, de incentivo cultural, criada em 24 de março de 1993, teve importante papel no desenvolvimento artístico da cidade de Teresina.

Como papel importante, destaca-se o projeto de criação de uma orquestra de câmara para a cidade. Até então, somente bandas musicais expunham seus trabalhos ao público teresinense. Nesse ambiente, a criação de uma orquestra com músicos especialistas em um distinto grupo de instrumentos - os instrumentos de cordas friccionadas - era um grande desafio.

Orquestra de Câmara de Teresina em apresentação na Casa da Cultura
Os mestres da música na cidade tinham consciência desse desafio e muitos acreditavam ser impossível, visto que, infelizmente, desconheciam a existência de um pequeno grupo de violinistas teresinenses que, com muitas dificuldades e sem auxílios de professores, persistiam na busca do aperfeiçoamento capaz de concretizar o sonho de formar uma orquestra municipal.

O desconhecimento dos mestres da música sobre esse pequeno grupo de instrumentistas, atrasou  a execução do projeto de criação da Orquestra de Câmara de Teresina.

Em 1990, aqueles musicistas, entraram em contato com as Escolas de Música de Teresina (EMT) e, a Villa-Lobos. Passaram, então, a utilizar suas salas de aula para o estudo e ensaio de obras musicais como o Concertino, Opus 15, de Ferdinand Kuchler.

Este passo foi decisivo, uma vez que a relação com as escolas levou à ciência destes músicos, a existência, já em 1993, do projeto que visava a criação de uma orquestra municipal. Logo, dirigiram-se à Fundação Cultural Monsenhor Chaves e se inscreveram no projeto.

Espanto para os mestres da música! Alegria para a Fundação Cultural e para a cidade de Teresina.

Foi convidado o professor e maestro Emmanuel Coelho Maciel para estar à frente do projeto. Uma vez definido músicos e regente, porque não juntá-los e concretizar o sonho?

Em Junho de 1993, no auditório da Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SEMEC - houve a primeira reunião para discutir os objetivos do projeto. No entanto, o ajuntamento foi além de uma reunião: músicos apostos com seus instrumentos... Não houve perda de tempo, afinal, um sonho antigo estava por se concretizar...

Naquela noite, todos os músicos fizeram testes afim de identificar o nível musical individual e definir a distribuição geográfica no espaço orquestral.

A noite findou. Estava criada a "Orquestra de Câmara de Teresina".
OCT em apresentação no Theatro 4 de Setembro

Os ensaios passaram a ser realizados no auditório da Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SEMEC - situada à Rua Areolino de Abreu, Nº 1507 Centro, sempre às quartas-feiras e aos sábados no horário das 18:00 às 19:30. O repertório foi formado com músicas simples e folclóricas. Dentre elas, destaca-se: a Coleção Orquestra Mirim - Suíte Brincando com as Cordas - Cantiga, Coral e Dança, Valsa, de autoria de Emmanuel Coelho Maciel; Asa Branca (Folclore Brasileiro) e a folclórica francesa Frere Jack, arranjos de E.C. Maciel.

Em 16 de Agosto de 1993, portanto, dois meses, apenas, de ensaio, a Orquestra de Câmara de Teresina realizou a sua histórica primeira apresentação em público por ocasião da reinauguração da Praça Da Costa e Silva, situada à Avenida Maranhão.

"Trata-se de um esforço inédito, ousado em nosso Estado..."

Ao término da apresentação, a orquestra foi intensamente ovacionada... Era momento de alegria para os músicos, para o meio cultural, enfim, para a cidade... Gritos de bis! bis! bis!... se ouviam e, novamente, a orquestra pôs-se a executar todo o seu repertório.
OCT em concerto no Theatro 4 de Setembro
Esse momento é guardado na memória de todos os músicos que compunham a Orquestra de Câmara de Teresina, à época. O que se presenciou naquele dia, a boa aceitabilidade da população para o tão jovem grupo musical, foi munição necessária para intensificar os trabalhos e apresentar sempre, para a população teresinense, novidades e tudo ou, o máximo que pudessem...

Novas músicas foram incorporadas ao repertório, como: Melodia Religiosa Ucraniana (Folclore Ucraniano), Tema de Häendel ( G.F. Häendel) e Jesus Alegria dos Homens (J.S. Bach).
OCT em uma de suas apresentações, também no Theatro 4 de Setembro
Ao final do ano de 1993, já em dezembro, houve, no Theatro 4 de Setembro, o concerto de lançamento da Orquestra de Câmara de Teresina - OCT. A apresentação na Praça Da Costa e Silva fora somente uma prévia.

Um convite foi confeccionado e nele constou toda a ficha técnica da orquestra, o repertório e sinopses sobre os compositores.

"A Prefeitura Municipal de Teresina, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, convida  V. Sa. e digníssima família a participar do concerto de lançamento da Orquestra de Câmara de Teresina, comemorativo ao natal, no Theatro 4 de Setembro, às 20:00 h, no dia 22/12/93. Por obséquio confirmar a presença.

No prólogo, lia-se:

"Sonho antigo, acalentado por todos os amantes da música erudita em nossa cidade, aqui trazemos, neste natal de 1993, a Orquestra de Câmara de Teresina. Sonho feito realidade, temos ainda muito que aprender e lutar para preservá-la.”

Como esta apresentação visava também comemorar o natal, foi intensamente ensaiado a Cantata para Coro Infantil e Orquestra - Cante o Natal - de L. C. Crouch. Houve a participação especial do Coro Infantil "Raio de Sol", regido por Maria Cláudia Anjos e Tenório.

A Orquestra de Câmara de Teresina - OCT - contou em sua formação para este concerto, com:

1º Violino: Paulo Régio (Spalla), Elisbane Vasconcelos, Dayan Alhadef, Carolina Silveira, Josiel Alan, Kátia Aguiar.

2º Violino: David Aguiar, João Batista, Ismael Silva, Domingos Escórcio, Artur Bhonn, Edivaldo dos Santos.

Violas : José Mendes, Débora Batista, Gerson Luís, Maria Teresa, Edivaldo Vasconcelos.

Violoncellos: Victor Maciel, Claudiney Marques, Valdomiro da Silva, Marcos Cardoso.

Contrabaixo: Francisco Desterro.
OCT, apresentação no Theatro 4 de Setembro
Em um terceiro momento, foi incluída novas músicas ao repertório da orquestra. Citamos: Coleção Orquestra Mirim - Cirandas do Saci - Cançoneta, Marcha, Valsinha e Majestoso de autoria de E.C. Maciel; Temas de Reisado - Boi, Jaraguá e Pião (Folclore Brasileiro); Alegretto Moderato (Guerra Peixe); Fascinação (Marchetti); Minueto em Sol (J.S. Bach); Moderato da II Sonatina ( L.V. Beethoven), as valsas Noche de Ronda (Mª Teresa Lara) e Ondas do Danúbio (I. Ivanovici ), O Sole Mio (Di Cappua), todas com arranjos de E.C. Maciel.

Destaca-se que a obra O Sole Mio, teve sua versão cantada e tocada pelo tenor lírico Geraldo e pela OCT, respectivamente. A primeira exibição em público foi no Theatro 4 de Setembro. A música tocou profundamente os ouvintes presentes que, em gritos, pediam bis! Mais uma vez mostrava-se o talento daqueles jovens musicistas e o empenho em sempre mostrar o melhor que pudessem.

Mais tarde, o tenor lírico Geraldo, foi acometido de  problemas na laringe, tendo sido proibido pelos médicos, de cantar. Geraldo se viu obrigado a afastar-se da orquestra.
OCT, apresentação ao ar livre em palco improvisado
A Orquestra de Câmara de Teresina – OCT – foi um empreendimento que preencheu um espaço antes vazio no meio cultural na cidade. Por esse motivo, a orquestra cresceu quantitativa e qualitativamente. Dessa forma, passou a ser referência na cidade. Certa vez, a revista ‘Isto é’ , de circulação nacional, veiculou uma matéria sobre a cidade de Teresina e um dos destaques foi a Orquestra de Câmara de Teresina.

Visto que a orquestra sendo um grupo de câmara, compunha-se somente de instrumentos de cordas - violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Dessa forma, cita-se o esforço, pela primeira vez, em incluir instrumentos de sopro tais como flauta e clarineta, quando foi proposto e iniciado os primeiros ensaios da Cantata para Coro e Orquestra - A História Bíblica de José do Egito - obra nacional de autoria do maestro E.C. Maciel.
OCT na Revista Isto É
Ressalta-se que todos os esforços para levar avante a Orquestra de Câmara de Teresina, provinha da boa vontade e disposição dos músicos, uma vez que tais não recebiam nenhum incentivo como, bolsas de estudos para aliviar nas despesas.

O provimento de materiais como cordas, breu, espalera, crina e a manutenção em geral dos instrumentos era de responsabilidade individual. Também não havia auxílio público ou particular nesse sentido.

Por durante muitos anos a Orquestra de Câmara de Teresina - OCT - não teve uma sede própria. Iniciou seus trabalhos no auditório da SEMEC, mais tarde utilizou uma sala na antiga Secretaria de Saúde, realizou ensaios em salas da Fundação de Cultura, no Teatro de Arena e em outros locais. Por último, se estabeleceu na Casa da Cultura.

Os instrumentos e demais materiais eram guardados na Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Nos dias de ensaio, os músicos se dirigiam à Fundação para pegá-los.

As dificuldades para se levar adiante uma orquestra foi se tornando a cada ano, mais intensas. A OCT, sem incentivos financeiros, não tinha condições de se manter. Houve, portanto, um período em que o sonho ora concretizado por pouco deixou de existir...

As intempéries no meio cultural foram demasiadamente devastadoras, uma vez que a Lei A.Tito Filho já não estava com todo o seu vigor.

Apesar da falta de incentivos de todas as formas, a Orquestra de Câmara de Teresina - OCT - resistiu e continuou com seus trabalhos musicais. O sonho, a boa vontade, a coragem daqueles valentes músicos foram extremamente importantes para a formação e manutenção da orquestra que se comemora até o dia de hoje.

A maioria dos antigos músicos da orquestra já não fazem mais parte desta. No entanto, outros foram compondo o quadro atual e dando continuidade aos trabalhos musicais. Situações como esta são comuns em todas as orquestras do mundo.

Dos 22 músicos pioneiros, apenas 05 permaneceram no quadro da orquestra, são eles: Edivaldo Sampaio (Violino), Francisco Desterro (Contrabaixo), Ismael Silva (Violino), Josiel Alan (Violino) e Rubens do Nascimento (Contrabaixo).

Por volta  de 1995 e 1996, foi aberto inscrições para a formação de novos músicos. Os inscritos foram jovens que se dedicaram ao estudo de instrumentos de cordas friccionadas. Neste momento, frisa-se, foi o início do que se convencionou chamar de "Orquestra-escola", uma vez que leigos em música tiveram a oportunidade de estudá-la.

Apesar de toda orquestra ser considerada uma escola para instrumentistas e regente, o termo "Orquestra-escola", no sentido acima descrito, não pode ser empregado, de uma certa forma e como se costuma, aos primeiros momentos da OCT, visto que quase a totalidade dos jovens que a compunham já possuía conhecimentos musicais e tocavam algum tipo de instrumento. Ainda assim, houve aulas de prática instrumental, voltadas para violistas e violoncelistas, no entanto, restringiu-se somente aos conhecimentos básicos.

Em  2001, a OCT experimentou a permuta em sua regência. Fala-se na saída do maestro e professor Emmanuel Coelho Maciel e entrada do professor e compositor Aurélio Melo. A substituição de maestro, não afetou somente a regência como também o repertório da orquestra.

A OCT até então, compunha um vasto repertório folclórico. Vez por outra, arriscava-se na execução de obras eruditas. Apesar da tendência do professor Aurélio Melo ser para os ritmos nordestinos, o novo maestro, ousadamente, foi aos poucos, modificando aquele repertório.

Mesmo sem abandonar a música nordestina, ou brasileira de um modo geral, Aurélio Melo incentivou o estudo e execução da música erudita.

A OCT incluiu em seu repertório, dentre outras: Eine Kleine Natchmusik, Sinfonia nº 29 (W.A. Mozart); 1942 - A Conquista do Paraíso (Vangelis); A Primavera - I Movimento (A. Vivaldi); Marcha Militar (F. Schubert); Bolero (M. Ravel); Sinfonia nº 05 (L.v. Beethoven); Aleluia, Música para os Fogos de Artifícios Reais  e Suítes da Música Aquática (G.F. Haendel).

Com um diferente repertório, portanto novidade para os músicos à época e para a população teresinense, a Orquestra de Câmara de Teresina - OCT - intensificou suas apresentações ao público. Entidades públicas e privadas passaram a incluir a OCT em suas programações festivas.

Algumas viagens ao interior do Estado do Piauí passaram a ser empreendidas. Isso é destacado como fato importante à medida em que tais viagens proporcionaram maior divulgação da orquestra pelo Estado. Cidades como: Oeiras, Batalha e outras puderam conhecer e aplaudir o trabalho dos cerca de 37 músicos que, à época, já faziam parte da orquestra.

Talvez como prêmio pela persistência, paciência e resistência às intempéries no meio cultural, os músicos da OCT passaram a ser mais reconhecidos e apoiados pela Prefeitura de Teresina através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Nesta época foi destinado certa quantia mensal para prover bolsas e vales aos membros da OCT, afim de ajudá-los em suas despesas.

Com esse recente incentivo financeiro, a OCT continuou tomando novos rumos decisivos ao seu crescimento... Acreditou-se na necessidade de instituir uma associação cuja pudesse lutar pelas garantias e melhorias na orquestra.

Em 2005, a ‘Associação dos Amigos da Orquestra de Câmara de Teresina’ foi fundada. Seu primeiro trabalho junto aos músicos foi desenvolver um projeto de ampliação da orquestra. O projeto foi encaminhado à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT.

Apesar de, naquele ano, os Correios estarem passando por uma forte crise, que convencionou-se chamar de "Escândalo do Mensalão", o projeto foi rapidamente aprovado. O baixo valor solicitado, cerca de R$ 596.000, foi fator importante.

Dessa forma, no dia 19 de Agosto de 2005, no Theatro 4 de Setembro, a Orquestra de Câmara de Teresina – OCT – depois de transcorridos 12 anos e 02 meses de sua fundação, usufruiu novamente de um momento de glória: acontecia, portanto, a transformação desta em Orquestra Filarmônica do Piauí - OFP.
Transformação de OCT para OFP
A mudança de nome ocorreu em virtude da ampliação da quantidade de instrumentos e musicistas e do patrocínio, por durante 02 anos, de uma empresa - os Correios.

Ao contrário do que aconteceu quando dos preparativos para o lançamento da OCT, em 1993, a transformação em Orquestra Filarmônica do Piauí, aconteceu com a presença de poucos políticos e da população da cidade. Um convite, afim de formalizar o evento, infelizmente, não foi confeccionado.

A Orquestra Filarmônica do Piauí - OFP - contou com 53 músicos produzindo sons nas mais diversas categorias de instrumentos: violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, oboé, clarineta, clarone, fagote, trompa, trompete, trombone de vara, tuba e tímpanos. Seu repertório é composto, principalmente, de músicas eruditas e também por músicas populares nacionais.

A OFP executou seus trabalhos em escolas, praças, teatros, instituições públicas e privadas nos mais distintos bairros da cidade de Teresina. Também participou dos grandes acontecimentos culturais do Estado do Piauí, onde, na ocasião, se dirige a outros municípios do Estado: Alto Longá, Oeiras, Pedro II, Amarante e outros.

Posteriomente, a OFP sofreu uma mudança. Passou para responsabilidade total da Prefeitura de Teresina e recebeu o nome de Orquestra Sinfônica de Teresina - OST.

Estes fatos tem sido o resultado da luta que vem se empreendendo à década a partir das primeiras atividades dos antigos músicos junto à OCT. No entanto, o esforço daqueles tão jovens musicistas, hoje, infelizmente, é pouco ou praticamente não é lembrado. Muitos desconhecem o compromisso, a valentia, o desejo de crescer, enfim, o árduo trabalho desenvolvido pelos primeiros instrumentistas da Orquestra de Câmara de Teresina, a O. C. T.

             Aqui, nossos cordiais cumprimentos e agradecimentos aos músicos pioneiros que,                          amistosamente, criaram e levaram adiante a Orquestra de Câmara de Teresina!

         Mesmo que não permaneça, mas saibam que as vossas lembranças um dia estiveram                                                          recordadas... Uma salva de palmas!

                               E que esses aplausos ressoem por um máximo de tempo!


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